Batatas |
Apareceu principalmente como alimento de acompanhamento, embora também desde cedo se começasse a executar receitas em que se constituía como componente principal, como nas migas de batata, na sopa de batata, nas batatas de rebolão, etc. (ver receitas).
Nas sopas entrava como coadjuvante dos legumes, como nas sopas de feijão com batata, sopa de grão com batata, etc. Nos chamados pratos de conduto começou a ser escolhida porque «avultava» mais, ou seja, aumentava o prato se haver sem haver necessidade de aumentar o conduto, como nos ensopados de borrego, no borrego assado no forno, hoje impensável sem o acompanhamento das batatas, etc. No entanto, algumas localidades nunca assumiram a sua entrada no ensopado, considerando-se como as verdadeiras guardiãs da receita original.
Arroz |
O arroz também entrou tranquilamente na dieta alimentar do Alentejo, sendo de imediato adotado como acompanhamento para algumas sopas, como as de feijão. Integrou-se definitivamente na canja, e também foi utilizado como componente principal, na confeção de pratos com tomate, suã (ver receitas), ervilhas, carne, lampreia, etc.
Tanto a batata como o arroz vieram aumentar o receituário alentejano, travando o excessivo aumento de criação de gado registado até então.
Durante o século XX até há poucos anos, a alimentação alentejana era coisa de alentejanos. Uma alimentação de carácter regional que se tinha fundado através dos séculos, com força baseada em produtos que a terra dava e pouco tributária da modernização e das alterações que a cozinha em geral ia registando. A cozinha do campo era igual à cozinha urbana, centrada nos mesmos quatro produtos que a têm assistido através da história: pão, azeite, porco e vinho.
Durante décadas foi esta a característica principal da alimentação alentejana, pragmática na execução das suas receitas, mas carregada de simbolismos que lhe deram uma identidade capaz de se impor a influências, constituindo um traço de união entre as pessoas.
O Culto do Emagrecimento
Década de 60 do século XX, nesta data instalou-se o culto do emagrecimento, mediatizado em termos excessivos, ao mesmo tempo que os nutricionistas lançavam anátemas sobre as gorduras, invectiva da qual nem o azeite escapou, sobre o pão e todos os alimentos que faziam parte da cozinha tradicional alentejana. Até à estigmatização, quando os nutricionistas e dietistas consideraram a cozinha alentejana como nefasta à saúde.
Não só a escolha de alimentos se modificou como as formas da sua preparação se reorganizaram, em cozeduras mais curtas, sem molhos, pondo em evidência fibras e vitaminas.
A obsessão era grande e assistia-se ao paradoxo de ver sociedades desenvolvidas cada vez mais apaixonadas por comida mas obcecadas pelo regime de emagrecimento. A gastronomia e a culinária ganham importância cada vez maior. O mercado da cozinha toma um lugar de relevo na imprensa e em todos os media, com um aumento crescente da publicação de livros sobre o tema. As viagens facilitaram a tomada de contacto com outros regimes alimentares e o Alentejo começou de imediato a ser destino de gentes à procura da memória do campo e de um «tempo» que a cidade há muito que desconhece. O receituário regional alentejano reanima-se.
Pela primeira vez no Alentejo assiste-se a um turismo que procurava primeiro a cozinha e depois os monumentos.
No entanto, não deixava de ser uma cozinha que recorre a produtos colocados no índex pelos nutricionistas e dietistas e por alguma indústria agro-alimentar que tenta arranjar novos mercados para os seus produtos de substituição. Mas o feitiço voltou-se contra o feiticeiro Depois de um período durante o qual as pessoas aceitaram de imediato os vereditos implacáveis de alguns médicos, arregimentados para proclamarem a excelência dos produtos das multinacionais alimentares, descobrem que o malefício está nos produtos alternativos que lhes tinham impingido. Aditivos, corantes, hormonas, óleos extraídos de produtos estranhos, conservantes, sucedâneos, etc., começam a ser encarados como, afinal, deveriam sempre ter sido, como produtos de um agro-negócio que muito pouco se importa com a saúde das pessoas, com a agravante de lhes ter destruído o prazer de comer.
No entanto, não deixava de ser uma cozinha que recorre a produtos colocados no índex pelos nutricionistas e dietistas e por alguma indústria agro-alimentar que tenta arranjar novos mercados para os seus produtos de substituição. Mas o feitiço voltou-se contra o feiticeiro Depois de um período durante o qual as pessoas aceitaram de imediato os vereditos implacáveis de alguns médicos, arregimentados para proclamarem a excelência dos produtos das multinacionais alimentares, descobrem que o malefício está nos produtos alternativos que lhes tinham impingido. Aditivos, corantes, hormonas, óleos extraídos de produtos estranhos, conservantes, sucedâneos, etc., começam a ser encarados como, afinal, deveriam sempre ter sido, como produtos de um agro-negócio que muito pouco se importa com a saúde das pessoas, com a agravante de lhes ter destruído o prazer de comer.
O Inverter das Situações
É nesta época que as filas de gente a caminho do Alentejo voltam a engrossar novamente, à procura de uma alimentação que nunca perdeu identidade. Ao mesmo tempo, invertendo situações e conceitos, o azeite de mau passou a ótimo, as gorduras animais, bem vistas as coisas e consumidas com muita moderação, eram necessárias, o pão indispensável e outros produtos que conheceram a maior execração vêem-se de novo reabilitados.
A força da cozinha alentejana, a forma como tem resistido a tantos atentados e contrariedades, as vitórias que tem obtido, trazendo para si entusiasmo de outras gentes, obriga a refletir na sua intemporalidade. Comemos hoje receitas fixadas há mais de mil anos com os mesmos produtos e cozinhados da mesma forma.
Sem comentários:
Enviar um comentário