Este meu Blog centra-se principalmente na cozinha tradicional portuguesa. Com maior destaque para a fascinante cozinha regional Alentejana, citando nomeadamente as suas tradições, origens, costumes e história. Pretendo também inovar e alterar/enriquecer à minha maneira algumas das receitas tradicionais, oferecendo-lhes um ar mais moderno e inovador mas sempre mantendo os ingredientes tradicionais da região.

Início da Minha Carreira de Cozinheiro

     


     Decorria o ano de 1995, no mês de Maio, encontrava-me na situação de militar em sistema de RC (regime de contrato), estava colocado na Manutenção Militar, com o posto de 1º Cabo e tinha como especialidade a já extinta SGSI (serviços gerais serviços imediatos, ou seja, sem especialidade atribuída), fazia de tudo um pouco. A Manutenção Militar é uma unidade militar que tem por missão abastecer de alimentos e géneros uma grande parte das unidades militares do país e como tal, tem inúmeras diligências espalhadas pelo país, assim como também algumas messes (refeitórios onde são servidas refeições) que servem os oficiais e sargentos. Desde essa altura e ainda atualmente o Exército Português está bastante carente de cozinheiros, e nessa data, a EPAM (Escola Prática de Administração Militar, cita na Póvoa de Varzim) em parceria com o (CEFP) Centro de Emprego e Formação Profissional tinha aberto os concursos internos para cozinheiros, nas instalações da EPAM, destinado aos militares em situação de RC que quisessem concorrer. Um certo dia o meu comandante de companhia, na altura Capitão Campos, tinha conhecimento que eu tinha gosto pela culinária, então fui chamado ao escritório e me perguntou se estaria interessado em frequentar no referido curso, eu sem hesitar disse que sim e logo naquele dia foram tratadas todas as burocracias. Fiquei bastante contente e satisfeito, pois ia para um curso de cozinha, que era o que eu tanto queria, iria ficar também com outra garantia para depois da vida militar concorrer ao mercado de trabalho.

     O curso decorreu durante um ano, durante esse ano tive a experiência e a oportunidade de trabalhar e mexer com vários equipamentos de cozinha que me eram estranhos, os que mais destaco são as cozinhas de campanha que são cozinhas desmontáveis e móveis para ambiente de guerra, ajudas humanitárias e exercícios militares, assim também como as padarias de campanha que são para o mesmo fim. No decorrer do curso a avaliação era continua, tinha-mos aulas teóricas e práticas, as práticas foram as que mais me fascinaram e as que me fizeram gostar mais da profissão que hoje venho a desempenhar, eram dadas em bancadas individuais, com uma ementa diária que nós tinha-mos que executar com a ajuda de um monitor (técnico de cozinha) que ia de bancada em bancada a dar auxilio e esclarecer dúvidas, nós tínhamos a responsabilidade de confecionar bem a ementa e tinha que estar tudo pronto num certo espaço de tempo, gostei imenso, foi uma ótima experiência e que me fez ter mais gosto pelo ramo.

     O curso terminou e tivemos três meses de estágio, o meu calhou no Grande Hotel de Santarém ****, onde pela primeira vez tive a oportunidade de integrar numa verdadeira brigada de cozinha, onde entrei como cozinheiro de 3ª. Foi uma experiência também muito enriquecedora, a nível pessoal e profissional, trabalhar com mais aparelhos novos de cozinha, pratos novos, produtos que não conhecia, trabalhar com os empregados de mesa a atender os pedidos para a sala de refeições sempre com o cuidado do prato sair bom e bonito, a respetiva limpeza da cozinha e seus utensílios, tudo foi bastante interessante, terminei o estágio com uma boa nota também.

     Depois do estágio, regressei à Manutenção Militar, já com o curso terminado e o estágio feito, tinha outra perspetiva de vida e uma maneira mais responsável e confiante de olhar para o futuro.

     Na semana seguinte do meu regresso à Manutenção Militar fui destacado para ocupar uma vaga de cozinheiro para a Messe de Oficiais de Caxias, uma messe bastante conceituada destinada somente a oficiais dos três ramos das forças armadas e países da NATO, fiquei bastante satisfeito, pois era mais um passo enfrente e mais um degrau acima para a minha experiência profissional. Na Messe de Oficiais de Caxias (MOC) permaneci durante seis anos como cozinheiro, a trabalhar com cozinheiros civis, durante esses seis anos compreendi realmente o que era a cozinha, o trabalho em equipa e sobretudo ganhei confiança e segurança pelo posto desempenhado, desempenhava com êxito todas as tarefas que me eram atribuídas.

 
     Finalizando aí a minha carreira militar, saí perfeitamente habilitado ao mercado de trabalho na vida civil, hoje sou cozinheiro profissional graças a esta muito importante experiência que me lançou para a vida, uma experiência onde aprendi a ganhar o grande sentido de responsabilidade, aprendi o sentido do trabalho em grupo, descobri e vinquei qual a profissão que queria seguir, conheci também inúmeras pessoas do ramo com quem troco impressões e opiniões sobre a profissão.

     Ao 2º ano de estar na Messe de Oficiais de Caxias, surgiu-me a oportunidade de ir fazer casamentos, batizados e outros eventos festivos para a Quinta das Tílias, a oportunidade surgiu através de um amigo meu que me falou que tinham falta de cozinheiro para a Quinta, eu sem perder tempo marquei uma entrevista com o gerente e no próximo evento já ia prestar serviço, foi um sucesso e já lá estou há 10 anos. Foi sem dúvida mais um grande passo para mim e mais uma porta aberta e uma nova experiência, pois aprendi e continuo a aprender muito com os eventos que fazemos na Quinta das Tílias, praticando uma cozinha mais elaborada, virada para o Gourmet.

 Quando terminei a vida militar e saí da Messe de Oficiais de Caxias, tinha concorrido já aos Quadros Permanentes de Pessoal Civil do Exército, mas sem obter qualquer resposta ainda da parte do Exército para saber se era admitido ou não, tinha que trabalhar entretanto e de preferência, na área da cozinha. Concorri então às Pousadas de Portugal (Grupo Pestana) e logo fui admitido, entrei como cozinheiro de 1ª para a Pousada dos Lóios em Évora, mas tive a oportunidade de fazer alguns serviços na Pousada D. Afonso IV, em Alcácer do Sal, na Pousada do Castelo de Alvito, na Pousada de Arraiolos e na Pousada do Vale do Gaio, nesta última, permaneci durante algum tempo a fazer as férias do meu colega. Passado um ano e meio, sou notificado para ir prestar provas para a admissão aos Quadros do Exército. Provas efetuadas com sucesso. Com grande pena minha, deixei as Pousadas de Portugal, pois foi uma experiência bastante positiva. Mas escolhi o Exército.

Durante o decorrer da minha carreira procuro estar sempre atualizado com tudo o que diz respeito à minha área de especial interesse, a minha profissão, como novos pratos, novas ferramentas de trabalho, as novas tecnologias, entre outros produtos. E para andar sempre em cima do acontecimento e sempre atualizado associei-me à Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal (ACPP), associação essa que anualmente promove um congresso durante 2 dias a nível nacional e internacional que se tem realizado em Santarém na Casa do Campino, é o ponto de encontro quase que obrigatório para todos os profissionais ligados à hotelaria e turismo, em especial para cozinheiros e pasteleiros.